domingo, 1 de janeiro de 2012

O cristianismo é culpado pela escravidão? - Ravi Zacharias

Sam Harris também critica o cristianismo pela escravidão, o que eu acho muitíssimo irônico (ver Carta, 14-19). Na superfície, ele defende a igualdade da dignidade humana (ver Carta 18). Ao mesmo tempo, ele faz piada com a crença de bilhões de pessoas e quer erradicar essas crenças com base na sua crença de que o cientista que crê somente na matéria é, de fato, intelectualmente superior. Ele diz expressamente que 93% dos cientistas não reconhecem a idéia de Deus (Carta 39). De onde ele tirou esse número? De que cientistas ele está falando? Eles são ocidentais ou orientais, comunistas ou capitalistas? E se uma porcentagem de cientistas orientais mais alta que a de cientistas ocidentais acredita em Deus? Isso provaria que os ocidentais são superiores do ponto de vista intelectual aos orientais? Já vi dados estatísticos afirmando que 40% dos cientistas realmente acreditam em Deus. [1]

Mesmo se o número de Harris for verdadeiro, não podemos contestar que, só porque uma porcentagem alta de pessoas acredita em algo, isso não torna esse algo moralmente correto? Existe um motivo porque a escravidão não é tratada diretamente na Bíblia, como Harris deseja que fosse. Evidentemente ele não leu Jó 31.13-15, em que Jó defende a justiça para aqueles que trabalham para ele e que tanto ele quanto seus trabalhadores são iguais na condição humana.

O Novo Testamento contém uma carta bela e terna escrita pelo apóstolo Paulo a Filemom, um proprietário de escravo. Nessa carta, Paulo pede a Filemom que trate seu escravo fugido não como a um servo, mas como a um irmão. Numa frase importante, Paulo escreve: “Mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra seu dever” (v. 8); mas não manda. Em vez disso, ele apela não meramente para o direito terreno, mas para o direito mais sublime do amor: “Assim, se você me considera companheiro na fé, receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta” (v. 17,18). O que mais Sam Harris gostaria que ele dissesse?

Ao contrario do igualitarismo que a fé cristã ensina expressamente, os escritos de renomados ateus são contra o igualitarismo. Igualitarismo não é dogma do ateísmo. Ouça Nietzche: “A igualdade é uma mentira inventada por pessoas inferiores que querem se reunir em bandos para superar o poder daqueles que são naturalmente superiores a elas. A moral dos ‘direitos iguais’ é a moral de rebanho e, porque se opõe ao cultivo de indivíduos superiores, leva à corrupção da espécie humana” [2]

Temos aqui um deles nos dizendo que existem seres humanos “superiores” e “inferiores”. Já trilhamos o caminho ateísta antes e ele nos levou ao Holocausto. Foi a crença numa moral absoluta, num igualitarismo divino verdadeiro, que pôs fim à escravidão. O motivo por que Jesus não fala nada sobre o problema da escravidão é muito simples. Ele não se manifestou sobre muitas questões que o “direito” poderia tratar sem mudar o coração, entre eles a derrubada de Roma – o império que havia escravizado sua amada Jerusalém e seu povo. Seus discípulos queriam que ele falasse ousadamente contra as leis de Roma, que os explorava e lhes restringia a prática da fé. Na verdade, aqueles que queriam calar Jesus até opuseram Roma contra ele, mas ainda assim ele não falou contra a tirania romana.


Notas:

1 – Ver Larson, E. J.; Witham, L. Scientists Are Still Keeping the Faith, Nature 386, 1997, p. 435-36; ver também Collins, Francis. Why This Scientist Believes in God, 6 de abril de 2007. Disponível em: HTTP://www.cnn.com/2007/US/04/03/collins.comentary/index.html> Acesso em: 1 de outubro de 2007.

2 – Citado em Novak, Philip. The Visiono f Nietzche, London: Veja, 2001, p. 16.


Texto retirado do livro "A morte da Razão - Uma resposta aos neoateus"

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