sexta-feira, 21 de abril de 2017

Os dogmas impedem a reflexão?

Excelente texto de Jacques-Marie-Louis Monsabré:

Tudo vai bem até aqui. A afirmação da Igreja, expressa pela fórmula dogmática, vai adiante das nossas necessidades intelectuais e atende às nossas fraquezas; mas respeitará ela as nossas grandezas? Fixado o dogma, não contraria ele a natural tendência de todos os conhecimentos humanos para o progresso? Impondo ao espírito humano uma fórmula seca que é necessário crer, não lhe proíbe o ter consciência do ensino que lhe subministrou? Imobilizando uma ordem de conhecimentos que é impossível rejeitar, não constrói ela uma espécie de dique que detém as evoluções das outras ciências?

Senhores, nada mais fácil de responder a estas questões de que tanto se tem abusado, em nossos dias, para tornar suspeito o governo intelectual da Igreja. Poderíamos escrever volumes; espero contentar-vos com poucas palavras.

Desde o século V que se suscitou a questão do progresso em face da imutabilidade do dogma, e eis como foi resolvida por um homem verdadeiramente sábio: “Que há um progresso, um grande progresso na Igreja de Cristo, escreve São Vicente de Lerins, coisa é que nenhum homem pode negar, por mais inimigo que seja de Deus e de seus semelhantes. Trata-se do verdadeiro progresso e não de mudança na fé. Dá-se progresso quando uma coisa se desenvolve em si mesma, mudança quando se torna noutra que não era... A religião das almas deve imitar a natureza dos corpos, que, com os anos, se desenvolvem sem deixarem de ser o que eram. Há, certamente, uma grande diferença entre a infância e a velhice, e, todavia, o velho é o mesmo homem que o adolescente. Ainda que o estado do homem mudasse aparentemente, permanece sempre o mesmo na sua natureza e na sua pessoa... A doutrina da Igreja obedece, pois, a esta lei de progresso, fixa-se, desenvolve-se, aprofunda-se, à medida que os tempos correm; mas subsiste sempre uma, pura, incorruptível... Estudam-se os dogmas tradicionais, aumentam em evidência, em demonstração e clareza científica, mas nada perdem da sua integridade[1].”

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