segunda-feira, 21 de agosto de 2017

São Pedro, Bispo de Roma – Autor desconhecido.

Depois de demonstrado que São Pedro pregou mesmo em Roma, cabe-nos provar ter sido ele o primeiro bispo daquela cidade sem par na Igreja.

Não abusaremos da paciência dos leitores com infindável lista de autorizadas personagens que dão testemunho em tal sentido. Contentar-nos-emos de mostrar, com documentos respeitáveis, que varões como Santo Irineu, Caio, São Cipriano, Optato, Santo Agostinho, São Jerônimo, Suplício Severo, o autor anônimo do Carmen Adversus Marcionem abonam o ponto de vista católico.

Antes de tudo, lembramos que todos os catálogos de bispos de Roma, sem exceção alguma, catálogos organizados com o maior escrúpulo, tanto no ocidente como no Oriente, colocam sempre o nome de São Pedro à frente dos chefes que teve a Igreja.

Se os norteasse com um profundo amor à verdade, há muito que devia ter cessado o clamor de certa classe de protestantes contra os direitos de São Pedro ao título de bispo de Roma.

Fechando os olhos a tantas razões alegadas pela Igreja, o protestante persiste na sua negação invocando, a seu favor, um argumento tirado do silêncio do apóstolo São Paulo. Na verdade, afirmaram eles, se São Pedro fosse o bispo de Roma no tempo das missões apostólicas de São Paulo, infalivelmente teria este último feito referência ao mesmo, quando escreveu a sua conhecida epístola aos romanos…

À primeira vista, semelhante argumento parece de grande alcance, pois não se concebe que o bravo evangelizador dos gentios, numa epístola em que saúda mais de vinte irmãos na fé com morada em Roma, silenciasse o nome do bispo daquela cidade. Não lhe ficaria bem enviar cumprimentos a tantas ovelhas, pondo à margem o pastor.

Outra, porém, é a verdade. Basta lembrar por ora, que São Paulo também escreveu aos cristãos de Éfeso e não faz qualquer alusão ao bispo daquela terra. Por igual enviou epístola aos coríntios, aos gálatas, aos tessalonicenses, aos colossenses, aos hebreus… e em nenhuma delas faz menção dos pastores colocados à frente daquelas comunidades.

Como explicar tudo isto? Primeiramente, é bem possível que os portadores dessas mensagens, que eram pessoas de sua inteira confiança, levassem especiais recomendações, orais ou escritas, para os bispos das referidas paragens. Depois, convém ter presente que eram maus tempos, constantes as perseguições religiosas, e tudo aconselhava a não pôr em evidência o nome do bispo local num documento público. Etc.

Podemos acrescentar a tudo isto que é sempre desaconselhável englobar o nome do chefe de uma diocese na enumeração de simples fiéis.

Quem leu o que aí fica devia naturalmente esperar que o protestante pusesse ponto final nas suas contestações à estada de São Pedro em Roma e à sua consequente investidura episcopal naquela cidade.

Mas o que sucede é que o homem continua no mesmo pensamento: passa de um galho para outro e, sem se dar por achado, lança o seguinte argumento: “Se Pedro ali tivesse a sede do seu episcopado, São Paulo não invadiria anarquicamente diocese alheia”, pois ele tinha por princípio “não edificar sobre fundamento alheio”.

Antes de tudo, meu amigo, este sistema de conduta não foi sempre adotado por São Paulo; e a prova é que ele pregou o Evangelho nas igrejas de Damasco, Antioquia e Jerusalém, que não haviam sido fundadas por ele. Além disto, o argumento apresentado contra nós, se provasse alguma causa, provaria exatamente o contrário dos seus desejos.

Leia com atenção todo o capítulo XV da citada epístola aos romanos. Nela, efetivamente, declara São Paulo que não costumava pregar a Boa Nova onde Cristo já havia sido anunciado, a fim de não edificar em cima de alicerce de outra pessoa (vers. 20).

“Por isso mesmo, continua ele, me via embaraçado, muitas vezes, para ir ver-vos e não tenho podido fazê-lo até agora. Entretanto, já não tenho motivo para me demorar, por mais tempo, nestas terras; e desejando ir ver-vos há muitos anos, logo que me ponha de viagem para a Espanha, espero ver-vos de passagem” (vers. 22-24).

Conforme se vê, as palavras do apóstolo das gentes nos levam a uma conclusão bem diferente das que os protestantes desejam. E qual será esta a conclusão? Paulo comunica que, tencionando ir à Espanha, verá, de passagem, os romanos, com os quais, de há muito, desejava entrar em relações. Não demorará entre eles porque não gosta de edificar em cima de alicerce de outrem. Quer isto dizer, implicitamente, que ali outro já havia edificado antes dele. Aliás, ele já o tinha feito sentir no começo da sua epístola: “vossa fé é conhecida em todo o mundo” (I, 8). Já havia afirmado que “os romanos estavam cheios de caridade, cheios de toda a ciência” (XV, 14). E pouco depois dirá que eram tão submissos a seus superiores eclesiásticos que “a obediência deles era notória em toda parte” (XVI, 19).

De tudo isto se conclui que, antes de Paulo aparecer em Roma, já existia por lá uma cristandade tão florescente que a sua boa fama corria em todo o mundo cristão. Mas quem teria fundado tamanho bloco de discípulos do Salvador na capital do maior império do mundo?

– São Pedro, respondem-nos todos os documentos dignos de respeito.

Pois bem, negando a viagem de Pedro a Roma, os nossos irmãos separados saíram atrás de um possível fundador, lançando mão de todos os recursos da imaginação, já que a História não os favorecia; e ainda hoje estão embaraçados nessa busca eternamente frustrada.

Em lugar de assim procederem, o que lhes competia era pensar como todos os espíritos razoáveis, admitindo que, sendo Roma a capital do Império e a cidade mais corrompida da Europa, onde enxameavam as religiões mais extravagantes, fosse evangelizada e convertida pelo príncipe dos apóstolos, o imediato representante do divino Mestre.

Como se percebe, o exame da epístola aos romanos o que deixa de entrever é exatamente o contrário da tese protestante.

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